viernes, 29 de mayo de 2020

MEU PRIMEIRO BEIJO DE AMOR (NãO NOSSO, MEU)



Levantei da carteira. Fui atrás dela, que tinha ido jogar algo na lixeira. A professora nos olhou pelo canto do olho. Lu virou a cabeça para mim ao sentir minha presença. Ficou surpresa por eu ter andado atrás dela sem qualquer motivo. Franziu a testa, abriu os olhos. Voltou. Eu também. Virou de novo, mais estranhada ainda, mais que a professora, mais que todos os colegas juntos que acompanhavam a cena. Sentou. Eu ia sentar, mas parei. Não sei pra que. De repente, inclinei o corpo, me aproximei dela e a beijei na bochecha. Todo mundo ficou pasmo, principalmente eu. Lu virou a cabeça. Pude ver seus lábios entreabertos, os dentinhos de coelho, a carinha feito ponto de interrogação. Tensão na sala. Todo mundo aguardando os acontecimentos. Vai bater, vai bater, ouvi de mansinho por ali. Me senti tão ameaçado nesse momento, mas a carinha linda dela foi mudando. Aos poucos, o movimento dos lábios dela foi engordando-lhe as bochechas e seus olhos começaram a ficar mais puxadinhos. Feito planta que pega chuva após a seca, fui retornando à minha posição vertical e a sala foi se iluminando conforme o rosto dela ia sorrindo. Aí, todos os colegas começaram a gritar eeeeee... Houve até quem batesse umas poucas palmas. A professora, longe de reclamar meu comportamento, os olhos cheios de meiguice, olhava a cena de lado. Como eu era ousado aos oito anos...

©LevAlbertoVidal/set2019

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